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O espaço das meninas no Futebol

Que o futebol é uma paixão nacional, todo mundo sabe. Mas, por muito tempo, foi um espaço negado às mulheres. Mais do que espectadoras, elas lutaram — e ainda lutam — para serem protagonistas dentro e fora dos gramados. No Instituto SECI, acreditamos que protagonismo é um direito de todas as pessoas e, por isso, atuamos para criar caminhos reais de participação e desenvolvimento.

O futebol feminino no Brasil enfrentou um longo período de proibição entre 1941 e 1979, reflexo de preconceitos que ainda ecoam e restringem o acesso de meninas ao esporte. Mesmo após a liberação da prática esportiva, a desigualdade de oportunidades e a falta de visibilidade persistem. Dados da ONU Mulheres reforçam que as atletas femininas ainda enfrentam menor acesso a recursos, menos oportunidades de competição e sub-representação em cargos de liderança. Além disso, uma pesquisa de 2021 do Instituto DataSenado aponta que a falta de apoio e infraestrutura adequada leva muitas jovens a desistirem do esporte, o que reforça a importância de iniciativas que garantam o incentivo desde a infância.
É nesse contexto que o SECI escolheu atuar, ampliando o lugar das mulheres no futebol e criando oportunidades concretas de protagonismo. Em 2017, iniciamos o projeto No Gramado com uma turma feminina no período da tarde, que tinha cerca de 20 participantes. Hoje, são 100 meninas em quatro turmas, um avanço significativo impulsionado por demandas das próprias participantes, que solicitaram turmas exclusivas de futebol feminino. Desde então, enfrentamos desafios como resistência cultural, iniciação tardia no esporte e a falta de referências femininas. Para superá-los, desenvolvemos estratégias práticas e inovadoras: inscrição imediata para meninas (sem lista de espera), aulas de futebol bilíngue, calendário de jogos amistosos e a criação de um festival feminino de futebol com equipes do ABCD e de São Paulo.
Ao longo desses anos, temos acompanhado histórias que refletem o impacto real desse trabalho. Uma delas é a de Pâmela, uma das primeiras alunas do projeto, que apaixonada por futebol decidiu seguir carreira na área e cursar Educação Física. Desde 2020, ela é professora no SECI, e, hoje, lidera a organização do futebol feminino no projeto No Gramado. A Pam, é referência e inspiração para todas as meninas que praticam e amam futebol. Seu exemplo já começa a dar frutos: Nicolly, cria do SECI e aluna da turma T11 de futebol, está se preparando para prestar vestibular em Educação Física este ano.
Ainda assim, sabemos que o caminho é desafiador. Uma análise recente com meninas das turmas F8, F10 e F11 revelou que, embora 43 delas pratiquem esportes quatro ou mais vezes por semana e 27 se declarem felizes jogando, mais nenhuma mencionou interesse direto em seguir carreira na área de Educação Física. Isso reforça a importância de criar mais referências e oportunidades para que as meninas enxerguem o esporte não só como lazer, mas também como um possível caminho profissional.

Para ampliar essas possibilidades, nos últimos três anos, levamos nossas alunas para assistir a jogos oficiais do futebol feminino, como as finais do Campeonato Brasileiro e as semifinais do Paulistão Feminino. Experiências como essas ampliam o olhar, inspiram novas perspectivas e mostram que o futebol também é lugar delas. Exemplos como o de Leila Pereira, presidente do Palmeiras, ajudam a construir novas referências, mostrando que mulheres podem ocupar todos os espaços no esporte.
Cada passo em relação ao futebol feminino é uma vitória coletiva. E é por isso que no SECI reafirmamos o nosso compromisso: criar espaços onde as mulheres não sejam apenas espectadores, mas protagonistas. Porque acreditamos que, quando uma mulher ocupa seu lugar, todo o território se transforma. Vamos juntas!